buscar os lugares que a constituíram. Dona Antônia vai plantar as sementes de seus antepassados da nova casa. Ainda não sabe onde essa nova casa vai ser, sente-se insegura de comprar uma nova casa com o dinheiro da indenização. Tem medo que os cálculos da usina esteja errados e o alagamento seja maior e inunde a nova casa. Tem medo de morar longe do centro, onde não tem nada. Altamira é uma cidade perigosa e nem todo bairro tem esgoto e água encanada.
O que é uma casa? Para Antônia, “a casa tem raízes bem grandes, bem seguras, alicerçadas. A casa protege do vento, do trovão. Os filhos vêm e vão, a casa fica. A casa é embelezada pela natureza.”
Açaizeiro – é sua árvore preferida. Traz alimento e beleza para a casa. Vem como lembrança de infância, como o suco mais doce. Vem como lembrança das festas juninas, onde os galhos do açaizeiro eram cortados para embelezar e festa. O açaizeiro de dona Antônia simboliza a vida, a segurança, o alto astral, a grandeza. Diz que é por isso que os pássaros são atraídos pela árvore.
“Eu luto contra esse modelo (Belo Monte) de destruição e morte”. A hidrelétrica de Belo Monte é “crime de lesa pátria, crime contra a humanidade. É um modelo de morte.” “Não posso desistir, vou continuar resistindo contra a destruição. Täo destruindo tudo: os peixes, os bichos, as casas, as árvores. Isso dá forças para continuar sendo a resistência. Belo Monte é um projeto com ilegalidades, é criminoso”.
Antônia busca força porque é aquela que a população busca quando precisa de ajuda, é a referência para aqueles que se sentem violados em seus direitos. Era em sua casa-árvore que buscavam forças – em suas raízes invisíveis. A perda da casa de Antônia é uma perda de um lugar simbólico da resistência contra a hidrelétrica de Belo Monte.
O pátio de dona Antônia é a representação do que está acontecendo em Altamira. Era um pátio-floresta, pátio-bosque, um pedacinho de floresta no espaço de um pátio. Hoje está devastado. Com a poeira da destruição das outras casas e o lixo que os vizinhos jogam ali por entenderem que ali não é mais casa de ninguém, antecipam o assassinato da casa. O pátio já não é mais um pátio, é “inseguro”. A devastação do pátio-floresta é uma fração mínima da devastação da floresta amazônica que está acontecendo devido à hidrelétrica de Belo Monte.”
A história de Antônia Melo também é contada no texto: “Do apagamento à inscrição museal na web: o estudo de caso do Museu das Memórias (
In)Possíveis", de autoria de Priscila Chagas Oliveira e Maíra Brum Rieck, que você tem acesso
neste link.