A APPOA e o Instituto APPOA vêm a público manifestar repúdio às ações de extermínio protagonizadas pela polícia e o governo estadual do Rio de Janeiro contra a população do Complexo do Alemão e da Penha nesta última terça-feira, 28.10.2025. É com assombro e profundo luto que testemunhamos, mais uma vez, a atualização da violência de Estado em sua face mais cruel e mortífera, na qual as vidas periféricas e faveladas são exterminadas sob o falso pretexto de luta contra o tráfico e segurança pública. A política de segurança pública, é um direito a ser assegurado a todos, como as demais garantias constitucionais em igualdade de condições e de forma equânime. No entanto, enquanto os aparatos de segurança operarem como um braço armado do Estado, atravessados pela lógica militar, hierárquica e ostensiva, a consequência seguirá sendo a produção e autorização de violências em nome da guerra ao tráfico, da criminalização da pobreza, da manutenção do racismo e de uma cultura da guerra e do ódio.
A ética psicanalítica nos orienta a ler as repetições mortíferas dessa ordem como retorno dos restos insepultos de nossa história racista e segregatória, que em absolutamente nada contribui para o fortalecimento de nosso pacto democrático e respeito às pessoas em vulnerabilidade social. É com igual assombro e preocupação que testemunhamos não apenas a espetacularização de tais episódios, mas a circulação de um gozo mortífero que vibra com tais mortes, elogia uma suposta expertise da polícia e deslegitima o luto dos familiares e moradores da favela. Por trás de tais discursos, resta a falência dos meios simbólicos de reconhecer a humanidade dos mortos, lhes restituir um rosto, um nome e uma história. Todas as vidas periféricas são passíveis de serem enlutadas e, enquanto psicanalistas, segue aqui nossa solidariedade a todos os afetados pelo horror do arbítrio, que ao intensificar os efeitos da violência, torna premente a tarefa de restituir a dimensão simbólica da palavra por meio do acolhimento e testemunho.