Há exatos 60 anos, em 1964, o Brasil começava a viver um dos períodos mais obscuros de sua história: uma ditadura civil-militar que durou 21 anos e ficou conhecido como “anos de chumbo”. Esse período foi marcado pela repressão, censura, prisões políticas, torturas, mortes e desparecimentos praticados pelo Estado contra os cidadãos que eram opositores políticos do regime imposto pelo golpe civil-militar.
Em 1979, a Lei da Anistia concedeu perdão político a todos aqueles que praticaram graves violações aos direitos humanos, colocando no mesmo plano aqueles que cometeram crimes em nome do Estado e os cidadãos que se opunham ao regime. A tal Lei da Anistia visava a “pacificação e a reconciliação de ambos os lados” e a ideia de que se deveria seguir em frente, virar essa página da nossa história. Assim sendo, vários crimes ficaram sem respostas e sem julgamento, vários corpos de cidadãos seguiram desaparecidos, várias famílias impedidas de fazerem o luto de seus entes queridos enquanto os perpetradores dos crimes cometidos pelo Estado seguiram blindados, sem que a justiça pudesse ser feita, sem que fossem julgados e responsabilizados por seus crimes.
Ao longo dos anos, tivemos algumas tentativas de revisar a Lei da Anistia, mas todas fracassaram e esse fracasso visava instaurar uma política estatal de silenciamento, de esquecimento e de denegação dos crimes praticados durante a ditadura.
Mas sabemos que não há como apagar a história e sabemos que o que é silenciado retorna em forma de ato, retorna em pesadelos, em repetições. Por isso entendemos a importância de uma política da memória e de resistência ao apagamento. Nesse movimento de resistência tivemos, entre os anos de 1994 e 2018, algumas políticas que visavam promover o direito à verdade e à memória como a Comissão da Nacional da Verdade e as Clínicas do Testemunho com políticas de reparação.
Nessa linha de resistência ao silenciamento, ao apagamento, em 2024, o Museu das Memórias (In)possíveis propõe uma série de eventos em descomemoração aos 60 anos do golpe civil militar de 1964 e lança a mostra TESTEMUNHOS DA DITADURA EMPRESARIAL-MILITAR.
O Correio da APPOA, junto a esse movimento de resistência e memória, acolhe os textos produzidos por integrantes e convidados do Museu, na tarefa de desconstruir as narrativas que seguem tentando ocultar o que de fato ocorreu nesses anos de chumbo, para que nunca mais se repita.
Boa leitura!