Em 2015, o fotógrafo Luiz Eduardo Robinson Achutti recebeu uma mensagem enigmática em sua rede social: “Você tem a minha história!”, disse uma jovem de 20 anos, até então desconhecida.
A interpelação, intempestiva, ficou em suspenso. Mas, insistiu, retornando de tempos em tempos, como nossas lembranças. Diênnifer, a jovem persistente, fora retratada por Achutti com 1 ano de idade, no colo de seus pais enquanto ele fotografava a primeira experiência de coleta seletiva de material reciclado do Brasil, que teve lugar na Vila Dique, em Porto Alegre. As fotos eram parte do trabalho de sua dissertação de mestrado.
Para Diênnifer e seus familiares, os retratos que compõem o livro oriundo da dissertação de Achutti transformaram-se em álbum de fotos da família. As fotografias digitais eram um futuro nada previsível. Não chegara a época dos celulares com câmeras e dos selfies em número infinito. Ser fotografado ou revelar uma foto era um luxo. Ainda mais onde o “lixo” tinha por objetivo transformar-se em renda. E, por que não, em memória.
Diênnifer buscou Achutti mais de duas décadas depois, atualizando um encontro, uma história, uma memória, uma narrativa. Ou fotoetnografia; conceito cunhado pelo fotógrafo quando da elaboração desse trabalho, em que a imagem compõe a narrativa. Muitas histórias e memórias foram lembradas posteriormente. Histórias individuais e coletivas que se entrecruzam e que se presentificaram nesse trabalho. Memórias que contam muitas vidas: do jovem fotógrafo, de um bebê, de um pai, de uma mãe, de trabalhadores, de uma comunidade, de uma cidade, de um país.
Em 2019, o Museu das Memórias (𝘐𝘯)Possíveis trabalhava com Achutti na montagem de uma exposição sobre seu trabalho na Vila Dique. Mas ainda não sabíamos como seria tal exposição. Até que um dia Achutti conta ao Museu a história de Diênnifer e sua busca. Estava aí a linha curatorial do Museu: o encontro de Achutti com a Vila Dique e a entrega do “livro álbum de família”. O Museu das Memórias (𝘐𝘯)Possíveis acompanhou e registrou esse momento de reencontro. Além disso, Achutti pôde continuar seu trabalho de 25 anos atrás. Presenteou os moradores da vila com suas fotos antigas e os fotografou com elas. A partir daí, o Museu das Memórias (𝘐𝘯)Possíveis pôde criar sua exposição virtual Quando um livro se torna álbum de família que pode ser acessada no site do Museu.
Hoje, essa exposição tem mais um desdobramento: de virtual para física, recriamos um álbum de família para Diênnifer.
A abertura será no dia 16 de janeiro, quinta-feira, às 18 horas, na Galeria Arquipélago do Espaço Cultural Força e Luz – Rua dos Andradas, 1223, no Centro Histórico de Porto Alegre.
Visitação: de 16/01 a 15/02/2025 – de segunda a sexta, das 10 às 19h, e aos sábados, a partir das 11h
Luiz Eduardo Robinson Achutti e Museu das Memórias (𝘐𝘯)Possíveis