A possibilidade do novo convivia com a insistência da destruição, pois, durante o processo de remoção das famílias, que transcorreu durante alguns dias, o que se presenciou foi muita destruição, em que a desfiguração do espaço foi determinante na angústia dos moradores. As casas vizinhas, as ruelas, a associação de moradores, as entradas da Vila, os bares da comunidade, os becos, não existiam mais, a não ser na memória, ainda recente e frágil para o momento do acontecimento. Estavam ali a Polícia Federal, a Brigada Militar, os guardas municipais, técnicos de várias secretarias, retroescavadeiras e muitos escombros. Parecia cenário de guerra. Um morador refere: “Aqui parece o Japão”. Estava certo. Falava de uma catástrofe, de algo com o poder de arruinar, de não deixar nada. Com os pertences encaixotados para a mudança, outra moradora diz: “Nos deixaram aqui, pior que animais”. Também contundente em sua fala, pois essa remoção, considerando a acepção de Milton Santos ([1987] 2007), guarda pouco do que podemos considerar humano.
(SOARES, SUSIN, WARPECHOWSKI, 2011-2012)
Nesse contexto de exclusão, violência e alienação, o desafio é intervir de modo a entrelaçar as dimensões clínica, política e social, restituindo a dignidade ética à palavra, possibilitando ao sujeito se reinventar e criando um laço social de inclusão.
(SOARES, SUSIN, WARPECHOWSKI, 2011-2012)