parte 1
o olhar que
aproxima
“Porque cremos que a visão se faz em nós pelo fora e, simultaneamente, se faz de nós para fora, olhar é, ao mesmo tempo, sair de si e trazer o mundo para dentro de si (...). Janela e espelho…”
(CHAUÍ, 1988, p. 33).
O que vemos?
O que vemos quando olhamos para a pobreza? Desviamos o olhar? Quem são as pessoas que vivem nessas condições? Já pararam para pensar o que nos diriam/ pensariam/imaginariam as Coisas se elas nos devolvessem o olhar? O que está por trás do lixo? Do precário? Como as pessoas se constituem nesse contexto? Há potência em tudo isso?


O que podem fazer duas psicanalistas nesse contexto? (...) Por que levar esse trabalho ao Museu das Memórias (In)Possíveis? O que queremos registrar dessas experiências no Museu? Quais os temas e questões queremos provocar em quem visitar a coleção? Quais os cuidados éticos e políticos precisamos ter com os materiais disponíveis? Essas são apenas algumas questões abordadas pela curadoria.
Como mudar o olhar?
Ver beleza onde supostamente só haveria destruição, degradação?
Como desfocar, mudar o centro?
Como cuidar?
Quem são essas pessoas?
Quais são as suas histórias?
O que elas dizem de nós?
“As flores
também são de
cores variadas.
E entre elas
não existe o
preconceito.
É que o homem
raciocina, e as
flores não.
Mas o raciocínio
do homem é
tolice.”
-
Carolina Maria de Jesus
O que nos olha?
AMOR
ORDEM E
PROGRESSO
Há um poema de Guimarães Rosa, intitulado REVOLTA, que dialoga com as duas crianças que vemos nesta imagem. Elas inventam um lugar para os sonhos que ainda tem, abrem espaço para as ficções que surgem como revoltas. Na iminência de perder um lugar eles reinventam outro lugar. Podemos imaginar este losango e este círculo onde estão encaixadas como uma metáfora da bandeira do Brasil e o sorriso das duas se abrem lembrando a faixa branca onde falta a palavra amor, como muito bem indicou Jards Macalé, na canção positivismo, “o amor sempre por princípio…”

Uma bandeira é o símbolo de um país e pertence a todo seu povo, é um lugar de registro de suas histórias. Os sorrisos destas duas crianças indicam, de alguma forma, a força deste verso de Guimarães Rosa, "minha pátria é minha memória".
Vejam o poema de Guimarães Rosa
Revolta
Todos foram saindo, de mansinho,
tão calados,
que eu nem sei
se fiquei mesmo só.
Não trouxe mensagem
e nem deram senha…
Disseram-se que não iria perder nada,
porque não há mais céu.
E agora, que tenho medo,
e estou cansado,
mandam-me embora…
Mas não quero ir para mais longe,
desterrado,
porque a minha pátria é a minha memória.
Não, não quero ser desterrado,
que a minha pátria é a memória…
O que ele vê?
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