exposição
VILA
CHOCOLATÃO
de que(m) é feito o centro da cidade?
Essa exposição conta a história da Vila Chocolatão. Um lugar que não existe mais, a não ser nas lembranças, narrativas e registros daqueles que a construíram. Essa vila, que é como os gaúchos se referem às comunidades pobres, se situava no centro da cidade de Porto Alegre/RS/Brasil. Não existe mais porque foi pensado pelo poder público que ela não poderia existir naquele local. Mas por que não? Por qual razão aquelas pessoas não poderiam mais viver ali em suas casas? O que isso diz de nossa sociedade e da relação que mantemos com o espaço público? Quem pode ficar e quem deve sair de um lugar?

Essa coleção é fruto do trabalho das psicanalistas Luciane Susin e Marisa Batista Warpechowski, que trabalhavam na FASC (Fundação de Assistência Social e Cidadania) da Prefeitura de Porto Alegre/RS/Brasil. A maioria das fotos também são delas. Elas já acompanhavam as pessoas da Vila Chocolatão bem antes da notícia da remoção por decisão do poder público. Conheciam suas histórias, seus nomes, seus dramas e sonhos. Com a notícia do desalojamento, e frente à impotência de uma outra resolução, dedicaram-se a escutá-los para auxiliá-los a compor suas histórias e, para tal, o uso das fotografias surgiu como importante recurso: os habitantes, as casas, as passagens, os becos, os locais importantes para os moradores. As imagens dão a ver parte de suas memórias afetivas relacionadas ao lugar, à comunidade, ao tempo. São sobrevivências e, como tal, tornam-se uma reserva de memória, um prolongamento do tempo vivido e uma possibilidade de atualização do passado. Cada morador tinha o seu lugar de referência: uma árvore, o rio, um local onde tinha ocorrido um evento significativo em sua vida. Compartilhavam os mesmos lugares nos quais iam tecendo suas próprias histórias.

Apresentamos aqui no Museu das Memórias (In)Possíveis o importante registro de memória que Luciane e Marisa fizeram com seu trabalho, inscrevendo, agora virtualmente, um lugar que não pôde mais existir na cidade.
Entrevista Luciane - O trabalho
Não sabemos ao certo quem colocou a placa da Vila Chocolatão. Poderia ter estado ali desde sempre para marcar o lugar onde seus moradores viviam, fazer um contorno que os inscrevesse no meio da cidade. Mas não foi isso o que aconteceu. A placa que nomeia a Vila Chocolatão com o número 555 veio como sepultamento para a Vila, no momento em que ninguém mais habitava aquele lugar. Saíram as pessoas e suas casas para dar lugar aos carros. Como uma piada de mau gosto, a inscrição da Vila Chocolatão ocorreu quando ela não estava mais lá. Ficou a lápide colorida da Vila, esperando seus visitantes e carteiros imaginários que ali não encontrariam mais ninguém.
Prédio alto apelidado de “chocolatão” (Delegacia da Receita Federal de Porto Alegre,
Superintendência Regional da Receita Federal do Brasil - 10ª Região Fiscal, Ministério da Economia,
Controladoria-Geral da União no RS e Superintendência do Patrimônio da União no Rio Grande do Sul) e,
o mais baixo, INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).