Procurando por Achutti no Google,
Diênnifer encontra a avó.
“Conhecemos o Achutti no Museu das Memórias (In)Possíveis. Estávamos trabalhando em cima da sua narrativa visual da Vila Dique, das fotografias que ele tirara há mais de 20 anos. Não sabíamos ainda como trabalharíamos com suas fotografias, com sua narrativa etnográfica através delas, nem como abordaríamos o seu conceito inovador de fotoetnografia. Sabíamos que faríamos um trabalho a partir do seu trabalho na Vila Dique. Mas ainda não sabíamos como. (...)

Achutti sempre foi muito generoso com o Museu. Com simplicidade, sem desconfiança, nos encontrou por meses para conversarmos, para descobrirmos juntos como montar sua coleção no nosso Museu. Munido de centenas de fotografias, de seus negativos, de seus livros, chegava com suas caixas e pastas aos nossos encontros. Nos entregava os originais para digitalizarmos sem nunca questionar sobre o destino do material. Nos comovia tamanha confiança, mas aumentava ainda mais a nossa responsabilidade de estarmos aptos a receber esse tesouro de imagens, algumas delas nunca publicadas. Recebemos, escaneamos, lhe devolvemos todo o material impresso, mas também o digitalizado – essa seria a restituição do Museu a ele. Mas o que fazer com todo esse material? Como fazer a curadoria dessas fotografias? Que outra narrativa faríamos com elas?

Foi então que Achutti nos contou de Diênnifer. Diênnifer era uma moça que havia entrado em contato com Achutti alguns anos atrás com uma frase enigmática: “Você tem a minha história”. A moça tinha sido fotografada por Achutti quando era um bebê de colo e ainda morava com seus pais na Vila Dique. Muitos familiares de Diênnifer tinham sido trabalhadores da recicladora, e a dissertação de Achutti para Diênnifer era uma espécie de álbum de família. Um álbum de família que nunca tivera na infância. (...) As fotos que Achutti presenteava as trabalhadoras eram as fotos que aquelas pessoas tinham. Eram únicas, eram verdadeiros tesouros, eram as suas histórias, eram o suporte das suas memórias.

Achutti narrou a Vila Dique através de suas fotografias, contou uma história com suas fotos, registrou um marco histórico na cidade de Porto Alegre/RS/Brasil. O que ele não sabia era que ele também estava contando uma história particular, a história de uma família, e que sua dissertação era o álbum de infância de Diênnifer. O seu trabalho acadêmico atingira uma outra dimensão que muito ultrapassou a Universidade. Afetou de maneira sensível a vivência e a experiência das trabalhadoras, que por muitos anos ainda continuaram a sentir a ressonância de seu trabalho - também sentida por Diênnifer.

Não tínhamos mais dúvidas por onde seguiríamos. Passados 4 anos da primeira mensagem de Diênnifer, Achutti – através da intervenção do Museu – marcou um encontro com a moça e sua família. O Museu foi junto para registrar."
Fomos duas vezes até a Nova Vila Dique (como é chamada informalmente pelos moradores) com Achutti, e desses encontros saiu um minidocumentário realizado pelo Museu das Memórias (In)Possíveis que conta desse retorno do fotógrafo à Vila.