O que os sonhos dizem do nosso tempo?

O Museu das Memórias (In)Possíveis lança este acervo que reúne um conjunto de mais de mil narrativas que começaram a ser salvaguardadas a partir de abril de 2020, período em que a Pandemia assolava o país e o mundo de modo devastador.

O projeto Inventário de Sonhos, realizado pelos psicanalistas André Oliveira Costa, Caroline Mortagua, Denise Mamede, Edson Luiz André de Sousa, Joana Horst, Luciano Bregalanti e Paulo Cesar Endo, teve início em  2018, no segundo turno da eleição presidencial, e ganhou novo fôlego no início de 2020, diante da pandemia de COVID-19.

A coleção Inventário de Sonhos coloca em evidência diversos modos de vivenciar a experiência difícil da pandemia, por meio de “paisagens” oníricas que manifestam um mundo esfacelado, repleto de perigos e obstáculos respondendo às inúmeras perdas, ao luto prolongado, à sensação de impotência e de solidão, compartilhados pela maioria de nós. Mas essa coleção não conta “apenas” de uma pandemia, ela conta a pandemia brasileira. A pandemia onde o presidente da república instrumentalizou um vírus e o transformou em arma. Não por acaso, Denise Mamede idealiza o projeto antes da pandemia, antes mesmo de saber que haveria uma. O projeto nasce como ideia no segundo turno das eleições de 2018. 

Por meio dos sonhos acessamos emoções como: tristeza, medo e raiva, rastros de vivências individuais e coletivas, frente a uma política de morte posta em marcha pelo Estado brasileiro. Um verdadeiro pesadelo, comparável a um cenário apocalíptico, no qual não enfrentamos apenas um agente biológico, um vírus mortal, mas o desvalor e a vida nua sendo fomentados por um governo perverso.

Não se trata aqui de interpretarmos os sonhos tal qual Freud concebeu em sua teoria, mas ler os sonhos como um sismógrafo do tempo em que vivemos desde Bolsonaro: a destruição sistemática do país, a chegada do  coronavírus, a instrumentalização do vírus em arma, a negação da fatalidade do vírus, as centenas de milhares de mortes, a reclusão, a chegada da vacina, a corrupção na compra das mesmas… 

Hoje tentamos esquecer, mas sabemos muito bem que é necessária a inscrição da memória para que se produza o esquecimento. É necessária muita memória para que não se produza repetições no futuro. E não queremos repetição: nem de Bolsonaro, nem da pandemia.

O Museu das Memórias (In)Possíveis junto ao projeto Inventário dos Sonhos convidam a todos para sonhar coletivamente. Sonhar o sonho sonhado de outros, sonhar o sonho dormido, sonhar o sonho acordado. Sonhar um futuro outro, sonhar o (in)possível.

Evento online e gratuito

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